Direitos Humanos

Coluna Direitos Humanos - Lisiane Gomes Lemos

Ed. 82 - A saga da bonequinha de feijão

      Lembro na minha infância do quanto nos divertíamos em reuniões de família, discutindo apelidos e características que ganhávamos pelo simples fato de sermos negros, como: Pelé, bonequinha de feijão, ki-suco de pneu, cabelo de vassoura, nariz de batata, ou que, todo preto é macumbeiro, deve ser bom jogador de futebol, não gosta de estudar, entre outros.
     Tenho me dedicado, nos últimos oito anos – aproximadamente - a entender a negritude. E me surpreendo sempre ao me deparar com novas visões, novos fatos, novas situações de preconceito. Ser negro é muito difícil. Não que ser branco seja fácil, falo apenas do que vivi.
      Lidar com preconceitos desde a infância acaba por tornar alguns seres mais resistentes e outros mais frágeis. Recordo do quanto odiava o meu cabelo e lutava com ele todo dia, pelo simples fato de querer ser aceita em um mundo que não me entendia, do quanto demorado foi aceitar que eu era diferente e o quanto isso era bom, sem esquecer do quanto ainda surpreendo algumas pessoas pelo simples fato da “bonequinha de feijão” fazer faculdade em um país onde 1% tem ensino superior.
      Mais velha, vi a importância da religião de matriz africana (candomblé, umbanda, quimbanda, etc.) – para os que seguem – como forma de união, identificação e fortalecimento da história do negro. Conversar com os seguidores sempre é uma forma de aprendizado e como todo ensinamento, deve ser respeitado.
     Atualmente, entendo que lidar com um preconceito que não se exterioriza é uma luta diária, difícil e como escudo, escolhi o estudo: ir para as escolas e expor com fundamento as coisas que acredito. Existem aqueles que militam, os que se dedicam a religião, os que trabalham em silencio e entendo que toda luta é válida, desde que para o progresso do todo. Entendi também que existem aqueles que nunca sofreram preconceito por sua cor e que não são obrigados a concordar comigo, apenas devo respeitá-los sem forçar uma mudança.
    O questionamento que deixo ao final é: você já foi ofendido ou ofensor? Isso lhe fez bem ou mal? Atualmente, você enxerga preconceito racial na sociedade?

Lisiane Gomes Lemos - Acadêmica de Direito - Universidade Federal de Pelotas
Estagiária da 3ª Vara do Trabalho de Pelotas
Diretora de Auditoria - AIESEC Pelotas/Rio Grande - RS
Integrante da Diretoria de Gestão de Talentos - AIESEC Pelotas/Rio Grande - RS
Integrante do Grupo Design, Escola e Arte (DTGC/IFM/UFPel)



 

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