Relacionamentos


Coluna Relacionamentos – Francisco Vidal

Ed. 79 - O lado virtual dos namoros

Os namoros virtuais antigamente se chamavam “platônicos”, pelo distanciamento físico do casal. Mais modernamente, os meios de comunicação e a rede mundial de computadores permitem o início e a longa duração de relacionamentos sem o menor contato real.
Os envolvidos até trocam mensagens, mas não se tocam nem experimentam a proximidade necessária a uma relação amorosa. Esses namoros são virtuais, mas têm um forte lado real, estimulado por fotos, vídeos e especialmente pela rapidez do bate-papo.
Mas não só os namoros virtuais têm o lado real, dado pelo corpo físico de cada um e pela sua comunicação em tempo real. Também os relacionamentos tradicionais têm um aspecto virtual, aquele mundo romântico que só acontece na imaginação de cada um, e que pode ficar em segredo ou ser revelado em parte.
O paradoxo é que o jogo da sedução ocorre entre esses dois mundos, o aberto e o oculto, mas as pessoas negam o lado secreto, inclusive a si mesmas, como se fosse inadequado ou desonesto incluí-lo.
Ficam existindo dois mundos que não se aproximam nem se integram, o que deixa os namoros empobrecidos. Namorados ao modo clássico convivem cada dia como desconhecidos e namorados virtuais se mentem a si mesmos, dando por certas coisas irreais e revelando banalidades como se fossem grandes exceções.
Cada relação tem um lado aparente e um lado invisível. O mais externo é para ser mostrado e desfrutado, eventualmente tocado, beijado e experimentado com todos os sentidos. O lado “interno” ou virtual é para ser falado, até onde for possível traduzi-lo em palavras, pois há coisas que é preciso compartilhar e há algumas que são segredos da alma. Conversar do lado de dentro pode ser um ato de grande generosidade, de alta sedução e de boa ajuda para que a relação dure para sempre.
Até a próxima.
Francisco A. Vidal, psicólogo.


Ed. 81 - Relações platônicas

          O filósofo Platão escreveu sobre o amor ideal como sendo puramente do espírito, mas sempre dirigido a algum objeto próximo (amigos e pessoas amadas). Ficou a expressão “amor platônico”, que depois mudou de sentido, querendo dizer um amor tão idealizado que não se relaciona com o objeto, ou este é distante demais.
       Parecido às relações virtuais, o amor platônico é um sonho lindo na mente de uma pessoa pouco madura. Por isso são comuns na adolescência e aparecem em adultos com muitos medos e carências emocionais. Antigamente era só uma fase da juventude, mas hoje eles acontecem nos chats e fóruns, e raramente evoluem para a realidade.
        O que é imaturo não é a capacidade de sonhar. Imaginar até ajuda a viver e a conviver, a colocar o lado romântico. O que atrapalha é a exagerada idealização de um ser perfeito e a incapacidade de se aproximar à pessoa supostamente amada. Mas como é possível falar com alguém que só está na nossa cabeça, e como se pode amar a quem não conhecemos?
        O amor idealizado vive numa bolha, e reproduz o que a criança sentia pelos pais nos primeiros anos de vida, quando não sentia as frustrações nem os limites reais de uma relação, e quando a sexualidade ainda não surgia. A pessoa sonhadora demais não consegue nem quer enfrentar uma relação erótica completa e adulta. Por isso também não enfrenta dificuldades, pois é um amor solitário.
     Além dos pais, temos adorações (e ódios) impossíveis com nossos professores, médicos, ídolos de beleza, com os chefes e governantes em geral. Mas esses sonhos são mais emocionantes e eróticos quando a pessoa idealizada anda por perto, como uma prima ou primo, colegas de aula ou de trabalho ou alguém da vizinhança.
       A questão decisiva é ter paixão o bastante (e pouco medo) para sair da jaula da nossa novela mental e enfrentar a realidade do encontro com a outra pessoa, que sempre trará como a vida traz – muitas surpresas, algumas sem graça (para esquecer) e algumas maravilhosas, para relembrar o resto da vida.
Até a próxima.
Francisco A. Vidal, psicólogo.


Ed. 82 - Relações platônicas

O filósofo Platão escreveu sobre o amor ideal como sendo puramente do espírito, mas sempre dirigido a algum objeto próximo (amigos e pessoas amadas). Ficou a expressão “amor platônico”, que depois mudou de sentido, querendo dizer um amor tão idealizado que não se relaciona com o objeto, ou este é distante demais.
Parecido às relações virtuais, o amor platônico é um sonho lindo na mente de uma pessoa pouco madura. Por isso são comuns na adolescência e aparecem em adultos com muitos medos e carências emocionais. Antigamente era só uma fase da juventude, mas hoje eles acontecem nos chats e fóruns, e raramente evoluem para a realidade.
O que é imaturo não é a capacidade de sonhar. Imaginar até ajuda a viver e a conviver, a colocar o lado romântico. O que atrapalha é a exagerada idealização de um ser perfeito e a incapacidade de se aproximar à pessoa supostamente amada. Mas como é possível falar com alguém que só está na nossa cabeça, e como se pode amar a quem não conhecemos?
O amor idealizado vive numa bolha, e reproduz o que a criança sentia pelos pais nos primeiros anos de vida, quando não sentia as frustrações nem os limites reais de uma relação, e quando a sexualidade ainda não surgia. A pessoa sonhadora demais não consegue nem quer enfrentar uma relação erótica completa e adulta. Por isso também não enfrenta dificuldades, pois é um amor solitário.
Além dos pais, temos adorações (e ódios) impossíveis com nossos professores, médicos, ídolos de beleza, com os chefes e governantes em geral. Mas esses sonhos são mais emocionantes e eróticos quando a pessoa idealizada anda por perto, como uma prima ou primo, colegas de aula ou de trabalho ou alguém da vizinhança.
A questão decisiva é ter paixão o bastante (e pouco medo) para sair da jaula da nossa novela mental e enfrentar a realidade do encontro com a outra pessoa, que sempre trará como a vida traz – muitas surpresas, algumas sem graça (para esquecer) e algumas maravilhosas, para relembrar o resto da vida.

Até a próxima.
Francisco A. Vidal, psicólogo.


Ed. 83 - Príncipes e sapos

Falando de um homem atraente, o conceito de “príncipe” o descreve como masculino, gentil, carinhoso e romântico, enquanto que o nome de “sapo” aponta para aquele esquisito, desatento e até irritante! Será mesmo que existem os príncipes e os sapos, como personagens reais?
Na verdade, todos nós, tanto homens quanto mulheres, em alguns dias estamos bem-humorados, amorosos e encantadores, enquanto que, outras vezes, estamos tensos, tristes, irritados e até despertando nojo!
Isto é ser gente, como diz a psicóloga paulista Rosana Braga. Existimos entre a luz e a sombra e descobrimos que podemos amadurecer, neste caminho tão variado de prazeres e frustrações. No amor, também aprendemos a ser melhores, enquanto buscamos a quem amar, ou enquanto nos apaixonamos e brigamos. São as alegrias e raivas que nos mostram como mudar comportamentos negativos e como conservar as atitudes que nos fazem bem.
E tudo bem com ser tão mutáveis e até inseguros. O problema – lembra a psicóloga – começa quando a permissão só é dada a si mesmo e não ao outro. Quem só quer se relacionar com príncipes, quem não consegue acolher o sapo que existe no outro, vai se decepcionar, e poderá amargar, repetidas vezes, aquela sensação de que sempre escolhe a pessoa errada.
Mas será que existem pessoas erradas e pessoas certas? Ou cada relação que vivemos é uma ocasião única de ver a nossa própria complexidade e de aprender algo novo sobre os outros? Não esqueçamos que nós também somos essas pessoas que os outros descrevem como “príncipe” ou “sapo”, e dentro de nós sabemos que não somos assim, tão como um personagem de novela.
Podemos treinar nosso lado “príncipe” ou “princesa”, cada vez que queremos conquistar alguém. Gentileza, paciência, saber ouvir, presentear o outro são pequenas atitudes que cativam e que fazem toda a diferença no relacionamento. É claro que esse lado bonito não elimina a porção “sapo”, mas ajuda a conviver com ela!
Até a próxima.
Francisco A. Vidal, psicólogo.


Ed. 84 - Relações heterossexuais

A palavra "heterossexual" costuma usar-se só para relacionamentos onde existe amor romântico, erotismo, casamento e a geração de filhos. Mas essa expressão pode ter mais de um sentido, e é bom distingui-los.
Tradicionalmente, as relações homem-mulher se rodearam de segredo e sacralidade, mas no século XX elas foram perdendo o mistério e os pudores. Se antes elas eram o tipo oficial de relacionamento bem-visto, hoje elas são tratadas como uma a mais, entre as relações humanas que existem (institucionais, familiares, comerciais, homossexuais, violentas etc.).
No sentido mais amplo, uma relação hétero é uma simples interação entre pessoas de sexo oposto. Homem e mulher conversando, cozinhando, dançando ou trabalhando formariam, neste sentido, um par heterossexual (mesmo não havendo entre eles uma relação amorosa nem física).
Muitas pessoas dizem não acreditar que este tipo de relação exista sem interesse sexual, e que onde houver um casal hétero ali estaria o interesse amoroso. Estas pessoas desconhecem duas coisas: que as ações amorosas podem, às vezes, estar desprovistas de sexualidade corporal (como são as relações de autoridade), e que nem todas as pessoas têm sentimentos sexuais fortes (existem as "frias" e as "quentes").
No sentido mais estreito, que é o mais usado, uma "relação heterossexual" é a de carícias dirigidas à união dos genitais masculino-feminino (em termos populares: "fazer amor" ou "ir para a cama"). A mentalidade moderna banalizou demais o encontro homem-mulher, com uma valorização excessiva da beleza corporal e do prazer erótico, deixando os jovens desorientados e os mais velhos desautorizados.
Na falta de educação e de coerência moral (que é mais grave na área amorosa), esqueceu-se que em cada relação humana existem fortes sentimentos entre as pessoas. Entre homem e mulher, são esses sentimentos que decidem quem se unirá com quem, quem amará e quem brigará, quem mandará e quem obedecerá, se haverá namoro, amizade, casamento ou divórcio.

Até a próxima.
Francisco A. Vidal, psicólogo.


Ed. 85 - Relações homossexuais

A palavra "heterossexual" significa relacionamento entre sexos opostos, mas pode usar-se com dois sentidos: atos sexuais entre pessoas de sexo oposto (sentido amoroso) e interações entre pessoas de sexo oposto (sentido geral, podendo incluir o amoroso). A diferença pode ser interessante para definir as relações entre pessoas do mesmo sexo.
No sentido amplo (não amoroso), “homossexuais” são as interações só entre homens – ou só entre mulheres – que têm a ver com autoridade, trabalho, estudo, amizade, competição. Pode haverá aí carinho ou rejeição, mas sem sexo.
O sentido mais restrito é o da relação homoafetiva, o namoro estável entre pessoas do mesmo sexo. Como é entre homem e mulher, também o amor homossexual ocorre por atrações dentro do casal, que podem ser por semelhança ou por diferença.
As semelhanças psicológicas levam mais ao entendimento, o que ocorre entre amigos, colegas, irmãos e pessoas de preferências parecidas. Um casal centrado nas semelhanças terá um bom trabalho em comum, ou passará muito tempo conversando, passeando ou criando coisas interessantes.
Já as diferenças podem levar um casal a competir, a se confrontar. Essa complementação é útil quando as tarefas são muito diferentes: um gosta de agir e outro de esperar, um gosta de falar e outro de ouvir, um analisa e o outro sente, um suja e o outro limpa, um libera e o outro segura.
Tanto as relações hétero como as homossexuais têm esses fatores de oposição ou identificação. Apesar da diferença física (homem-mulher) todos temos uma mentalidade própria e bem complexa, com sentimentos que se enfrentam ou se apóiam com o jeito de ser do amigo, amiga, namorado ou namorada.
É por esses jeitos de ser que formamos casais (homo ou hétero), e não pelos hormônios. Se houvesse só o lado animal, qualquer pessoa serviria para amar e namorar. Sabemos que não acontece assim, e que os sentimentos são complexos e devem ser entendidos. Se o namoro ignorar o que o outro tem por dentro, não teremos uma relação propriamente humana. Mas se soubermos em que nos opomos e em que nos parecemos ao outro, aí sim podemos nos aproximar a uma relação mais profunda e mais feliz.
Até a próxima.
Francisco A. Vidal, psicólogo.


Ed. 86 - O diabinho do ciúme

O sentimento do amor inclui o desejo de cuidar da pessoa amada, seja ela um familiar próximo, alguém para namorar, uma pessoa a ser protegida ou admirada. No entanto, o amor humano começa com o egoísmo — a proteção de si mesmo, sem incluir os outros — e precisa dessa força para sobreviver.
O amor pelos outros consiste em deslocar a proteção desde si mesmo para o objeto amado (desprotegendo o sujeito) ou, simplesmente, em ampliar o campo dos cuidados (colocando o amado como uma parte do sujeito, do lado de cá do limite com o mundo).
Quanto mais generoso esse amor, mais capaz de compartilhar o cuidado com outros sujeitos: por exemplo, quando vários filhos cuidam da mesma mãe, ou um casal cuida do filho em comum. Quanto mais egoísta, mais esse amor possui o objeto que considera só seu, e mais se incomoda quando outros também pretendem cuidar dele.
Os vários tipos de amor humano não incluem o ciúme (o zelo excessivo, bem além do normal), que é algo típico do amor de casal, ou do amor não resolvido em relação aos próprios pais. Os ciúmes são os desejos de possuir toda a pessoa amada e não querer compartilhá-la com mais ninguém.
Como o erotismo de casal já é exigente em si mesmo, não parece muito estranho que haja certo grau de ciúme. Os dois se estudam e se controlam como se fossem as únicas pessoas no mundo. Isso até pode assegurar um apoio e conhecimento mútuo, e ajudar na busca de prazeres e a não cair em perigos.
Mas quando o egoísmo é um diabinho sem controle, é sinal de que o amor generoso sumiu. Mesmo alto, o erotismo é invadido pela agressividade e pela angústia. O dominador abusa do lado mais generoso e tolerante, com perseguições morais e acusações absurdas.
O ciumento até se reconhece perturbado, quando diz sentir raiva da família do outro, da roupa que o outro veste e até do ar que seus pulmões respiram. Trata-se de uma verdadeira doença mental, que, contudo não pode nem deve ser eliminada, e sim controlada, como uma fera a ser domesticada para podermos conviver e ser felizes.

Até a próxima.
Francisco Antonio Vidal, psicólogo.


 

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